sábado, 17 de dezembro de 2011

Necessary changes


   Seco a lágrima que insiste numa tentativa de escape. Meu peito se aperta e sinto uma dor dilacerante. A fraca luz que se faz na rua, relutante, passa pelas frestas da veneziana parcialmente fechada e atinge partes do meu corpo. Outra lágrima corre e se junta às tantas outras que agora encharcam meu travesseiro. Olho em volta e vejo o vazio do quarto. Um vazio que breve se tornará parte de mim.
   A dor mais uma vez fisga em meu peito, e meus olhos ardem. É incrível como os sentimentos machucam. Como a decepção tem a capacidade de nos fazer sentir algo tão intenso e ruim. Olhando para trás, percebo o mar de mentiras em que vivi submerso. Cada palavra, cada gesto e cada promessa se tornaram nada mais do que ilusão. Ditas apenas por dizer.
   Não há coisa pior do que se entregar totalmente a alguém, e em troca receber mentiras. Priorizar tal pessoa, e ser sempre a segunda, terceira, última ou nem ser uma opção. Tentar se tornar parte de algo em que você é completamente dispensável.
   O som de passos se torna cada vez mais perceptível, e então tento disfarçar a explosão de angústia que sinto. Um sorriso se esculpe em minha face, e então corro para lavar meu rosto. Mais uma vez, enceno um estado de felicidade que não existe para não ter a necessidade de inventar explicações.
   Retorno ao quarto em passos rápidos e me afundo mais uma vez em pensamentos. A dor vai me deixando juntamente com as lágrimas, e começo a pensar de forma clara. Decido me afastar de tudo e todos que não me fazem bem. Sem pestanejar, ergo a cabeça e fito o teto. O verde me deixa calmo. Faz-me acreditar. Acreditar que no próximo ano, tudo mudará. Mesmo parecendo difícil, essa esperança me alivia.
   Os minutos passam rápido demais, e com eles se vai o dia. A luz, que aos poucos entrava, se tornou cada vez mais fraca, até que desapareceu totalmente. Retomo os sentidos que se perderam no momento em que me perdi nas idéias. Assim que voltei a sentir, a saudade veio acelerada e se chocou contra meu peito ainda doído.