O carro para e abro a porta da forma mais lenta possível. A coragem toma conta do meu ser e me levanto bruscamente enquanto abro o grande guarda-chuva negro. Sigo a passos largos no caminho de pedra que se encontra sem uma mísera alma. Ao chegar na entrada, ergo a cabeça e fito a antiga porta de madeira escura. Ao atravessá-la, me deparo com uma longa fileira de bancos antigos e mal iluminados pelas inúmeras velas que se fazem presentes ao redor do recinto. Ao longe, o altar.
Sigo vagarosamente pelo corredor entre os bancos até onde se encontra o teu corpo. Imóvel, alvo, transparecendo a fraca luz que o ilumina. Pego a tua mão leve e gélida e encosto meus lábios. Todas as nossas lembranças passam como um filme em minha mente.
-Como eu queria ter um último diálogo contigo. Lembra de quantas promessas fizemos? Que estaríamos juntos para sempre? Que por mais que precisássemos seguir nossos caminhos, eles sempre se cruzariam? E o que aconteceu? Tu fez novos amigos e se afastou de mim. Tentei me aproximar, sabe, mas tu nunca mais me tratou como eu te tratei. Chegou uma hora que nem opção eu era. E agora? Onde estão todos teus amigos? Onde estão todos por quem me trocaste? O meu amor insiste, mesmo agora. - uma lágrima escorre no meu rosto quente.
Fito mais uma vez teu rosto pálido e de leve beijo teus lábios sem vida. Com a certeza de que irei um dia te esquecer e finalmente viver uma vida sem pesares, viro as costas e apressadamente deixo teu corpo para trás.
A chuva continua persistente, como uma amiga presente para levar consigo toda a dor que sinto no peito. As nuvens se afastam e raios de sol invadem, em meio ao dia escuro, meu rosto que se encontra sem expressão alguma. Entro no carro e sigo meu caminho, deixando todo o sentimento para trás e levando comigo apenas algumas lembranças do que já foi tão vital.