Depois de uma tarde
longa escalando barrancos, desviando árvores e contornando terrenos
impossíveis, finalmente chego à clareira. O chão é plano, acolchoado por uma
grossa camada de grama verde-acinzentada e rodeado de flores selvagens e
coloridas. Em volta, altas árvores que dão espaço apenas a uma pequena área na
qual escapa a intensidade do sol. Esquilos correm de um lado a outro enquanto
carregam nozes nas bochechas enormes. Pássaros cantam em uma cacofonia
estonteante. Com certa dificuldade, armo a barraca e junto alguns galhos secos
para a fogueira. A noite se aproxima e com ela, o frio. Depois de acender a
fogueira, me deito ao lado do fogo e viajo.
Talvez minha vida
não seja exatamente da maneira como pensei que seria. Sempre tive em mente que
a solidão era conseqüência do tempo e idade em que vivia, mas conforme as coisas
foram passando, continuei sozinho. Nunca procurei um amor, pois sempre
acreditei que ele viria no momento certo. Acho que me enganei. Viver aventuras
sozinho é como ter um dom e não poder dividi-lo com o resto do mundo. É como
ter muito e não ter com quem compartilhar. É como não sonhar.
Cansado de pessoas
superficiais, venho acampar. Gosto de me afastar do mundo urbano, uma vez que
esse não tenha seguido minhas expectativas, e me aproximar de mim mesmo. Queria
muito poder dividir essa explosão de sentimentos com alguém. Poder me entregar
de corpo e alma a quem me ame de verdade. Tenho tanto para dar. Só gostaria que
alguém apertasse minha mão firme e seguisse o caminho junto a mim, sem soltar
jamais. Queria poder aprender a andar de novo, de forma diferente e adaptada
aos passos de um grande amor. Sim, ainda sigo a expectativa de encontrar quem
me complete. Quero amar, viver intensamente e fazer do meu amor, a pessoa mais
feliz do mundo. Quero abraçá-lo firme e demonstrar tudo que sinto. Não deixarei
nada passar, pois tudo deve ser vivido.
Corujas começam a
fazer um som assustador enquanto as sombras das árvores formam imagens
perturbadoras no chão. Tão acostumado com tudo, jogo um balde d’água na
fogueira e vou tateando a terra até a barraca. Então me deito com a porta
aberta e fito a fraquíssima luz do luar que, de forma tímida, aparece no topo
da clareira. Ao som da natureza, meus olhos pesam e, relutante, me entrego a um
sono profundo e tranqüilo no meio do nada.
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